sábado, 6 de agosto de 2011

Medicamentos encontrados no lixo são do município


Garis que faziam a limpeza encontraram os medicamentos

Enquanto a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) não consegue resolver o problema de desabastecimento nos postos e hospitais da rede, medicamentos vão parar no lixo. Na manhã de ontem, garis da Urbana encontraram 103 ampolas de insulina Insunorm R, utilizadas em pacientes com diabetes mellitus, além de 16 frascos do anestésico Provive 1%, cuja substância ativa é o propofol. Os medicamentos perderão a validade somente entre abril e maio do ano que vem.

 Além dos produtos de uso restrito dos hospitais, foi encontrado um par de botas brancas, do mesmo modelo utilizado por profissionais da área médica. Os itens estavam ao lado de uma caçamba de lixo na Cidade da Esperança, por trás do Detran, encobertos por outros itens descartados no local. Sobre o assunto, a posição oficial da SMS é de que não tinha conhecimento do caso e iria apurar os fatos. Atualmente, a insulina é um dos medicamentos cuja falta nos postos de saúde municipais, é recorrente.

De acordo com levantamento da Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat), responsável pela distribuição desse tipo de remédio aos municípios, as ampolas de insulinas encontradas ontem, fazem parte do último repasse feito à Secretaria Municipal de Saúde, no dia 15 de julho passado. Já a origem e o destino dos anestésicos não foram esclarecidos.

O secretário adjunto de Gestão de Trabalho e Suporte Imediato aos Serviços de Saúde da SMS, Fernando José Dias, foi procurado pela TRIBUNA DO NORTE. O objetivo era que ele comentasse se foi constatado o desaparecimento de produtos do almoxarifado da SMS ou de alguma unidade de saúde administrada pelo Município.

A assessoria de imprensa da Secretaria informou, entretanto, que Fernando Dias havia sido exonerado no início desta semana. A exoneração ainda não foi publicada no Diário Oficial do Município. Nenhum funcionário do Departamento de Logística e Suporte (DLS), que com a saída de Fernando Dias ficou sem diretor, quis comentar o assunto.

Além do DLS, o Núcleo de Pesquisa em Alimentos e Medicamentos (Nuplam) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), também foi consultado para esclarecer se os itens que foram encontrados no lixo estão acondicionados nos galpões do Nuplam, conforme contrato de gestão e regulação de alguns medicamentos estabelecido com a Prefeitura de Natal. O diretor do Núcleo, Carlos Lima, afirmou que o Insunorm R e o Provive 1%, não fazem parte da lista de remédios regulados pela instituição. Somente na próxima semana, a SMS irá se posicionar sobre o caso.

Após denúncia, Covisa recolheu medicamentos

O gari Manoel Ronaldo, que encontrou os medicamentos, afirmou que teve dificuldades em realizar a denúncia do ocorrido aos órgãos responsáveis. "Tentei polícia, secretarias de saúde do estado e município e ninguém resolvia nada", afirmou. Ronaldo afirmou que a solução encontrada foi chamar a imprensa. A equipe da TRIBUNA DO NORTE chegou ao local e quando constatou que um dos itens encontrados era o propofol, a mesma substância que causou a morte do cantor Michael Jackson em 2009, acionou a Vigilância Sanitária.

Somente com a formalização da denúncia via telefone, uma equipe da Coordenação de Vigilância Sanitária (Covisa), se dirigiu ao local. A chefe do Núcleo de Medicamentos da Covisa, Marlene Paiva, afirmou que casos semelhantes já haviam ocorrido. "Este ano mesmo, já recolhemos medicamentos abandonados no Alecrim. Mas estavam fora da validade. Estes aqui (apontando para a insulina e para o anestésico) estão dentro do prazo de validade. Além disso, o propofol é uma substância perigosa", ressaltou.
Até a chegada da equipe dos técnicos da Covisa, crianças e adultos haviam tentado pegar os medicamentos e levar para casa. "Muitas pessoas tentaram pegar os frascos e levar para casa. Nós não deixamos imaginando o risco que poderia ser para eles", comentou Manoel Ronaldo. Marlene Paiva ressaltou que, pelas características do ocorrido, o material poderia ter sido roubado de alguma unidade de saúde. Os produtos foram recolhidos e pelo número do lote, a Unicat identificou quem os recebeu nos últimos meses.

Bate-papo
» Aldemaro Cavalcante, anestesiologista

Como o senhor caracteriza o medicamento Provive 1%, encontrado hoje pela manhã por garis no lixo?

O propofol (substância ativa do Provive 1%) é uma substância de uso restrito ao ambiente hospitalar. Deve ser feito somente com o acompanhamento de um profissional anestesiologista ou intensivista.

Caso alguém tivesse ingerido um dos frascos do medicamento Provive 1%, o que poderia ter ocorrido?

Poderia ter ocorrido uma parada cardíaca e, quem sabe, a morte dessa pessoa. O propofol provoca uma depressão respiratória. Este tipo de medicamento pode levar à morte. Por isso que deve ser utilizado somente dentro do ambiente hospitalar com a assistência de um profissional anestesiologista ou intensivista, que são médicos capacitados a fazer manobras para garantir a ventilação das vias aéreas com oxigenação.

Como o senhor analisa a questão do acondicionamento de itens como o Provive 1% nas unidades de saúde pública, o controle é mais rigoroso?

Os hospitais devem estar preparados para acondicionar bem os medicamentos. Um dos setores que mais avançou nos últimos anos através da Anvisa e dos serviços de vigilância sanitária, foi a conservação e uso da medicação. Eu considero que, pelo menos nos hospitais nos quais eu trabalho, a segurança é adequada. A principal exigência é que haja um farmacêutico responsável pelos medicamentos para que possa garantir o cumprimento das normas de segurança dos remédios.

Em caso de ingestão acidental do propofol, o que pode ser feito?

Se alguém fizer o uso acidental, terá problemas. O propofol é uma droga rapidamente absorvida pelo organismo. O problema principal é que ela leva a uma depressão respiratória, a uma diminuição da respiração. O que exige ventilação mecânica, uma assistência cardiorrespiratória para ser restabelecida.
 
 
 
Fonte: Tribuna do Norte

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