terça-feira, 14 de junho de 2011

Detentos não dispõem de serviços básicos


Detentos na recepção da delegacia
Detentos na recepção da delegacia


Banheiro é artigo de luxo. Água e alimentação dependem de familiares e a entrega é incerta. Dormir, só se for sentado. A única cela da Delegacia de Plantão da zona Norte está cercada de lixo e fezes humanas. Dentre os catorze homens que dividem o espaço, um deles está baleado na perna e o tratamento é simplesmente desprezado. "Nem cachorro vive aqui dentro", esbraveja um dos presos quando avista a equipe de reportagem.
A situação só não é pior porque os agentes se negaram a transferir mais quatro pessoas para dentro da cela devido à sujeira espalhada pelo local. Os homens estão algemados uns aos outros e foram colocados dentro da lanchonete da delegacia. Expostos a toda sorte de eventos, inclusive fugas, um agente da polícia civil se desvirtua da função e os vigia.

O cenário de desprezo foi constatado na manhã desta terça-feira, 14, após um plantão bastante conturbado para os servidores da delegacia. A cela da Plantão zona Norte era destinada somente para prisões temporárias, que não ultrapassavam um dia de duração. "Serve só enquanto está fazendo o procedimento de flagrante, não é para manter detido", esclarece o delegado Aldo Lopes, de serviço nesta terça-feira.

Um dos detentos que preferiu não se identificar diz já estar na cela há mais de vinte dias. No local estão suspeitos de roubo, homicídio, porte ilegal de arma de fogo e estupros.

O delegado Aldo Lopes classifica a situação como gravíssima. "Apesar de criminosos, eles têm direito de pagar a pena como seres humanos. Quando um policial bate em um suspeito, no mesmo momento surgem autoridades reivindicando punições. Agora cadê os responsáveis pelos direitos humanos para se manifestarem sobre a situação daqui?", indagou.

Segundo ele, se a situação não foirrapidamente resolvida irá prejudicar os procedimentos a serem realizados durante esta semana. "O Estado enfrenta problemas sérios com déficit de vagas no Sistema Penitenciário. Em breve, os flagrantes serão prejudicados, porque não vai ter onde colocar os suspeitos detidos".

No início da manhã desta terça-feira, quatros detentos estavam na lanchonete e aguardavam a decisão sobre onde iriam ficar. "Tomara que não vá pra essa cela ai. Lá na Plantão zona Sul está lotado, mas é melhor do que aqui", disse Álvaro Gomes, 27 anos, preso em Parnamirim por tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo.

Ele já havia sido transferido da delegacia localizada no bairro de Cidade da Esperança por um tumulto durante a madrugada de hoje, 14. A movimentação dos mais de 30 presos danificou a cela da Delegacia de Plantão da zona Sul. Lá, também há suspeitos fora das celas, algemados a motocicletas.

Para o delegado Aldo Lopes, a função da delegacia de plantão está sendo alterada. "Desvirtuaram a função do Plantão. Não temos estrutura para manter presos e toda semana há fugas. Aqui mesmo não tem revista na hora da entrega dos alimentos e é fácil passar qualquer coisa para facilitar a fuga", argumentou. O próprio banheiro da cela já foi lacrado devido a uma tentativa de fuga recente, segundo informou um dos agentes do local.

A autônoma Maria José Avelino, 43 anos, aguardava para poder repassar alimentação ao marido, detido há 10 dias por porte ilegal de arma. A mulher se mostra revoltada com a situação e disse que fica à mercê da boa vontade dos agentes. "Quando eles querem, dá pra gente entregar a comida. Vou falar com o advogado do meu marido para ver o que pode ser feito. Continuar assim é impossível de sobreviver", reclamou.

De acordo com informações apuradas na delegacia, estava programada para a manhã de hoje a transferência de dez presos para um Centro de Detenção Provisório (CDP) ainda não definido da capital. Até a saída da equipe de reportagem, isso não havia acontecido.
 
Fonte: Tribuna do Norte

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