domingo, 12 de junho de 2011

Para escolas, verba é insuficiente

Você já pensou que lanche é possível comprar com três moedas de dez centavos? Um pãozinho doce, talvez. Pois bem. Trinta centavos de real é o valor que as escolas públicas recebem por dia letivo, para alimentar cada aluno matriculado, seja, na pré-escola, ensino fundamental, ensino médio ou educação de jovens e adultos. Os recursos são federais, do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e caem direto na conta das escolas.
Em Natal, apenas a educação infantil tem complementação, de R$ 2,90. O jeito é ir fazendo compensações. Um dia, o lanche é mais incrementado, no outro mais simples. Oferecer até mesmo o básico custa bem mais do que a verba que chega às escolas. A Escola Municipal Professor Herly Parente, em Igapó, recebe por dia letivo R$ 180,00, verba federal do PNAE. Por mês, a verba disponível para alimentar os 600 alunos, sendo 240 na pré-escola, é de R$ 3.600.

Pelo menos, duas vezes na semana, os alunos têm um lanche simples - pão assado com leite ou bebida láctea. Esse era o lanche da terça-feira, 31, quando a equipe da TRIBUNA DO NORTE visitou a escola. Compor um lanche desses para alimentar todas essas crianças não sai por menos de R$ 225,00/dia, considerando que o pão doce custa R$ 0,25 e o litro do leite, R$ 2,25. "Nós precisamos ter, no mínimo, 600 pães e 60 litros de leite", detalhou a diretora Adriana Rocha.

Por ser tudo "muito dispendioso", disse a diretora da escola Herly Parente, "é preciso ter um jogo de cintura muito grande. Precisa fazer mágica". Até a segunda quinzena maio, a escola estava recebendo suprimentos emergenciais direto da SME, por falta de regularização da Unidade Executora (o Caixa Escolar). Agora, o repasse federal está normalizado.

"A verba vem em dia, basta a gente prestar contas direitinho. Isso nos dá tranquilidade, mas é um recurso que precisa ser complementado", cobrou Adriana Rocha. Com verba curta é preciso negociar bem os preços, na hora da compra, mas com muita cautela. "Não adianta comprar o mais barato, se a criança vai rejeitar o alimento. Evitamos comprar um leite que é somente água só porque é mais barato", garantiu. Nas escolas visitadas pela Tribuna do Norte os gêneros alimentícios estocados nas dispensas eram de boa qualidade.

O ideal, segundo os diretores das escolas, é que o financiamento seja adequado à realidade de custos dos alimentos que compõem a merenda escolar. "Com essa verba, fica bastante complicado. Temos que ficar compensando, fazendo num dia um lanche mais caro e em outro, um mais barato", afirmou o diretor da Escola Municipal Waldson Pinheiro, Marcos Antônio Carneiro Calaça.

Segundo ele, a sorte é que nem todos os alunos merendam. "Se todos se alimentassem da merenda, com certeza ia faltar. Não teria como atender a todos", disse o professor. Outro ponto de atenção é o controle para evitar desperdício. Nas escolas, os pedidos são feitos a cada 20 dias, mas as entregas dos produtos pelos fornecedores são realizadas, por semana ou diariamente, dependendo do produto.

"Quando é pão, peço que venha, no máximo, de um dia para o outro. No caso do frango e da carne, peço entrega semanal para evitar que o produto estrague", explicou Marcos. Sem controle, reconhecem os diretores, a merenda não chegaria ao final do mês. Economia é palavra de ordem na cozinha da Escola Municipal José Sotero.

"A gente faz o possível e o impossível para colocar na merenda alimentos de qualidade e evitar desperdícios", afirmou o vice-diretor, Adriano Silva. A escola tem 750 alunos, na faixa de 11 aos 14 anos, e recebe R$ 5.100 do PNAE, a cada 20 dias. Ele também defende que haja uma complementação, por parte da Prefeitura de Natal. "Com certeza, poderíamos aumentar não só a quantidade oferecida, mas a variedade de refeições e a qualidade".
 
Fonte: Tribuna do Norte

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