quarta-feira, 15 de junho de 2011

Polícia investiga possível homofobia em assassinatos


José Dantas diz que há crescimento da violência contra homossexuais
José Dantas diz que há crescimento da violência contra homossexuais

Em um intervalo de 15 dias, a região metropolitana da capital registrou três homicídios praticados contra homossexuais. Todos foram marcados pelos requintes de crueldade com os quais os criminosos se utilizaram para tirar a vida das vítimas. Em pelo menos um deles, a motivação do assassinato foi confirmada: homofobia. Para um dos defensores dos direitos homossexuais no Estado, as características das três ocorrências não deixam dúvidas da mesma motivação. O mais recente crime dessa natureza ocorreu durante o final de semana passado.

Estrangulamento, estupro, e violência com instrumentos como pás e até mesmo pedaços de motocicleta chamaram a atenção nos casos de homicídios. Pelo menos um já se encaminha para a solução, com a prisão dos autores.

A primeira morte no intervalo de 15 dias foi do jovem Caio Lennysson da Silva Costa, 18 anos. O jovem foi estrangulado com requintes de tortura e espancamento e o corpo abandonado perto da sua casa, no conjunto Novo Amarante, em São Gonçalo. Próximo do cadáver, preservativos usados indicavam uma tentativa de estupro.

A morte foi registrada no dia 30 de maio passado e amigos da vítima levantaram a possível motivação. "Acredito que o fato de ele ser homossexual assumido possa ter atraído a raiva de outras pessoas. Ainda não sei bem como isso aconteceu, mas com certeza isso teve muito a ver", afirmou a amiga Ingrid Luana.

O pai, sargento Lenilson Costa do Corpo de Bombeiros Militar,  confirmou que essa é uma linha com a qual a polícia trabalha, mas não adiantou mais informações

No dia 3 de junho passado, agentes da Polícia Civil de São Gonçalo do Amarante detiveram três suspeitos de assassinarem o jovem Caio. Os homens foram identificados apenas pelo apelidos de Biro-Biro e Negão e foram ouvidos pelo delegado Adson Maia. O terceiro suspeito é menor de idade.

Segundo Adson, os suspeitos eram vizinhos da vítima na rua e eles estavam reunidos na madrugada do crime. "Fizeram por maldade. Ainda não sei se foi motivado por homofobia, mas isso pode ter contribuído para a violência contra o Caio", acrescentou.

A resposta da polícia ocorreu três dias antes de outro homicídio - aparentemente - com a mesma motivação. Milton Bezerra Furtado foi morto a golpe de pá e encontrado morto no bairro do Alecrim. Milton era homossexual e trabalhava vendendo doces em frente a escolas na Cidade Alta e na Ribeira.

No final de semana passado, na madrugada do domingo, o cozinheiro Adriano Soares Trigueiro, 34 anos, foi assassinado no bairro das Rocas. O instrumento utilizado para matá-lo foi um pedaço de motocicleta. Não houve tempo para socorrê-lo e Adriano entrou para a lista de homossexuais mortos violentamente em Natal.

Os dois casos mais recentes ainda não tiveram resposta da polícia e os inquéritos devem ficar a cargo da 1ª e da 2ª  DP, respectivamente. Por enquanto, a investigação não deve avançar devido à greve da Polícia Civil, paralisada desde o dia 17 de maio por tempo indeterminado.

Mortes com requinte de crueldade

Para o integrante do Fórum Nacional destinado a lésbicas, gays, bissexuais e travestis, José Dantas, Natal está passando a se inserir em um contexto nacional de homofobia. Para ele, o nível de crueldade constatados nos casos de homicídios contra homossexuais em Natal comprovam a motivação para a prática do crime. "São assassinatos perversos, cruéis. Isso prova que os criminosos são homofóbicos", disse Dantas.

Ele esclareceu que há dois anos  não se registrava crimes dessa natureza. "Isso é o reflexo da falta de instrução e ausência de políticas públicas que combatam a homofobia, isso desde a esfera federal até a municipal".

José Dantas acrescenta que o único centro de apoio a homossexuais, ligado à Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania (Sejuc), está fechado desde o início da nova gestão do Executivo.

"Há paliativos de apoio, como o combate a Aids. Mas não é destinado apenas para esse público e precisa ser mais eficaz", pondera Dantas. Na cidade, estão espalhados placas publicitárias da Secretaria de Estado da Saúde Pública nos quais se ler e ver: "Absurdo é o preconceito" e a imagem de dois homens com as mãos dadas.

Para ele, o problema precisa ser discutido globalmente e não ser escondido atrás de preconceitos.
 
Fonte: Tribuna do Norte

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