sábado, 10 de setembro de 2011

Gangues levam medo às escolas

Estudantes reagem às ameaças e vão às ruas pedir segurança
Estudantes reagem às ameaças e vão às ruas pedir segurança
Diretores de algumas escolas da rede pública estadual de ensino, em Parnamirim, apelam à instalação de cerca elétrica ou fechamento definitivo das janelas em todas as salas de aula com vista à área externa dos prédios. São barreiras à violência que tornou-se comum entre gangues - muitos desses jovens são ex-alunos -, responsáveis por quebrar a rotina de quem vai às escolas para ensinar ou aprender. Alunos e professores temem a violência e se protegem como podem às investidas.
As medidas adotadas pelos gestores dessas escolas vão desde procedimentos administrativos, como o envio de ofícios à polícia, ou instalação de cercas elétricas e fechamento de janelas das salas de aulas. Onde a violência conseguiu entrar ou bate à porta, as salas de aula lembram alçapões, sem janelas.

Os administradores e professores enfrentam como podem os casos de agressão ou tentativa em relação à comunidade escolar. Mas ressaltam que boa parte dos envolvidos em brigas e pancadaria remete a ex-alunos que rivalizam pelo simples fato de terem estudado em escolas diferentes.

Cerca de 70 alunos da Escola Estadual Professor Roosevelt, localizada no centro de Parnamirim, promoveram na manhã de ontem uma marcha pela paz rumo ao Centro Administrativo do município a fim de cobrar dos poderes públicos soluções quanto à insegurança. O medo saiu das salas de aula e ganhou as ruas em busca de segurança.

Os alunos foram recebidos pela diretora executiva do Gabinete Civil, Sônia Maria Araújo, que pretende levar o assunto ao chefe do Gabinete Civil. Eles reivindicaram a criação de uma Guarda Municipal e a disposição de um sistema de monitoramento eletrônico no centro da cidade, local onde os conflitos costumam acontecer.

Os atos e ameaças de violência surgem constantemente desde a última sexta-feira (2), quando no ensaio para o desfile da para militar do 7 de setembro, grupos rivais promoveram uma briga e disparos de arma de fogo em via pública. Na ocasião, 26 adolescentes foram apreendidos e conduzidos à 1ª Delegacia de Polícia Civil de Parnamirim, onde prestaram esclarecimentos. Todos foram liberados posteriormente por não haver provas quanto à autoria dos tiros.

Ainda sob o temor de que o fato presenciado por estudantes, servidores e demais moradores ganhem desdobramentos, os gestores de cada unidade têm buscado se proteger como podem. Todos reivindicam uma maior presença policial nas proximidades dos prédios e aqueles que possuem recursos investem em itens de segurança privada, como a instalação de cercas elétricas e sistema de monitoramento por câmeras.

Acuados, os diretores de algumas escolas têm enviado ofícios ao comando do 3º Batalhão de Polícia Militar situado em Parnamirim. O comandante da unidade, tenente-coronel PM Jair Junior, informou que, na medida do possível, a colaboração da Polícia Militar tem sido dada por meio da Ronda Escolar e da suplementação das viaturas que guarnecem a cidade e da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam).

Mas o comandante ressaltou que "a responsabilidade por prevenir e combater as ações de vandalismo, cometidas quer seja por supostos estudantes ou participantes de torcidas organizadas, deve ser compartilhada com a família, as próprias escolas, Ministério Público e Judiciário.

Vândalos ameaçam por telefone

As ameaças chegam às escolas até mesmo por telefone. A vice-diretora da Escola Estadual Roberto Krause, Marize Lira, confirmou que essas ligações forçaram a instalação de uma cerca elétrica na última quinta-feira. Outra providência para proteger alunos e professores foi a retirada das janelas de todas as salas de aula, no final de semana passado. A escola atende 1.200 estudantes.
Adriano AbreuNa Escola Estadual Roberto Krause, Francemildo exibe restos das janelas retiradas das salas de aulaNa Escola Estadual Roberto Krause, Francemildo exibe restos das janelas retiradas das salas de aula

"Está um clima muito tenso na escola porque, logicamente, alunos e funcionários ficam temerosos. Já recebemos um telefonema informando que 30 pessoas iriam invadir a escola", revelou a gestora. Sobre a possibilidade de haver alunos da Escola Estadual Roberto Krause envolvidos nestas ações de desordem, a professora diz não ter identificado qualquer aluno da instituição como membro dessas gangues.

No entanto, Marize Lira admite que alguns estudantes estão sem ir à escola devido à iminência de algum conflito. Ela citou a presença da Ronda Escolar, da Polícia Militar, como uma das garantias para que nenhum transtorno venha a ocorrer.

O porteiro Francemildo Teixeira informou que durante pelo menos dois anos o clima era de tranquilidade naquele ambiente escolar, mas que recentemente a paz foi quebrada por ex-alunos. "Aqui dentro não tem isso. O problema são os ex-alunos", afirma. A estudante do 9º ano do ensino fundamental, Marielle Furtado, 16 anos, se diz preocupada uma vez que naquele espaço onde a segurança deveria estar presente, a escola, hoje não se consegue ter tranquilidade. "Não tem como ficar calma sabendo que tem essas ameaças de invasão".

As ameaças e episódios de violência também mudaram a rotina e a tranquilidade na Escola Estadual Prof. Eliah Maia Rêgo - atende aproximadamente 1.700 alunos -, segundo o vice-diretor João Leonardo. Os telefonemas anônimos se sucedem."Nos últimos dias pelo menos três", disse. O teor da conversa é recheado por xingamentos e garantias de que a invasão à escola é questão de dias.

"Na verdade, quase sempre eles nem deixam a gente falar. A voz é de um jovem, mas a pessoa do outro lado parecia muita decidida e articulada", avaliou o educador. Segundo uma aluna da escola que preferiu não se identificar, desde o início do ano as brigas ocorrem em frente à escola. "Tem gente que fica até com medo de usar a farda. Até briga entre meninas acontece. Elas chegam aqui procurando briga", relata a estudante.
 
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